A Vigilância Sanitária Municipal inaugurou no dia 17 de novembro o Posto de Identificação de Triatomíneos (PIT), local responsável por ser a referência em todo município para receber amostra do inseto barbeiro. Questionada sobre o motivo que levou a instalar o PIT, a Vigilância Sanitária informou ainda não ter o perfil epidemiológico de 2021 e confirmou que em 2020 foi registrada infestação de barbeiro na localidade de Vilinha, no interior do município e, neste local, foi feita uma varredura pela 3ª Regional de Saúde.

A Vigilância em Saúde atua agora com medidas de vigilância e controle dos barbeiros, ações consideradas importantes para a redução do contato do homem com o inseto. O objetivo é controlar o processo de infestação domiciliar, para interromper a transmissão vetorial da doença.Os insetos suspeitos de serem barbeiros são notificados por meio da Vigilância Passiva, através dos moradores, que os enviam para confirmação, se são ou não barbeiros.

O barbeiro é um possível “recipiente” do protozoário Trypanosoma Cruzi, causador da infecção conhecida como Doença de Chagas. A infecção é adquirida por meio do contato humano com as fezes do inseto.

Cuidados na captura

A Vigilância Sanitária alerta para que, na dúvida do tipo de inseto que a pessoa encontrou na sua casa, não o mate, mas sim se proteja, pegue-o protegendo as mãos e leve até uma unidade de saúde, sem colocar o inseto em álcool.

Quando for capturar o inseto, a pessoa deve tomar cuidado para não o esmagar, apertar, bater ou machucá-lo. Também não deverá tocar diretamente no inseto, sem antes enluvar bem as mãos, com saco plástico ou similar, e ou acondicioná-lo diretamente em recipientes bem fechados, para evitar sua fuga.

Segundo a Vigilância, o importante neste momento é a comunidade entregar o inseto o quanto antes, em algum serviço de saúde, quando encontrar, pois assim será possível fazer a identificação ou não do barbeiro a tempo de evitar contágios.

O novo serviço fica localizado na rua 15 de Novembro, 570, esquina com a rua Jesuíno Marcondes. Dúvidas podem ser esclarecidas com o Posto de Identificação de Triatomíneos, ou através do telefone 3909-5096 ou via Whatsapp enviando mensagem para (62) 98321-8068.

Doença de Chagas

Em 1909 a doença de Chagas foi descoberta pelo sanitarista brasileiro Carlos Chagas que, na ocasião, combatia a malária no interior de Minas Gerais. O vetor da doença é o protozoário Trypanosoma cruzi – batizado assim por Chagas para homenagear o cientista Oswaldo Cruz – que usa o barbeiro como hospedeiro. O nome “barbeiro” se deve ao costume do inseto picar as pessoas na região do rosto.

A doença de Chagas não é transmitida ao ser humano diretamente pela picada do inseto. A transmissão ocorre quando a pessoa coça o local da picada e as fezes eliminadas pelo barbeiro penetram pelo orifício que ali deixou. A transmissão pode também ocorrer por transfusão de sangue contaminado e de mãe para filho, durante a gravidez. No Brasil, foram registrados casos da infecção transmitida, por via oral, em pessoas que consumiram caldo de cana ou açaí contaminados por esses insetos.

Sintomas e diagnóstico

Após a contaminação pelo Trypanosoma cruzi, o período de incubação costuma ser de uma a duas semanas. Porém, se contaminação tiver sido provocada por transfusão de sangue, os sintomas podem demorar mais de 40 dias para surgirem.

Os sintomas da doença de Chagas são divididos em fase aguda e fase crônica.

A fase aguda da infecção dura de oito a 12 semanas e é caracterizada pela circulação de grandes quantidades do parasita na corrente sanguínea. Nesta fase, a maioria dos pacientes não apresentam sintomas. Quando o fazem, são sintomas leves e inespecíficos, como febre e mal estar. A febre não costuma ser muito alta, ficando ao redor de 37,5 ºC e 38,5ºC. Aumento do tamanho do fígado e do baço também podem ocorrer.

Numa minoria de pacientes, pode surgir um nódulo inflamado no local da picada do barbeiro, conhecido como um chagoma.  Se a picada for ao redor de um dos olhos, é comum surgir um inchaço da pálpebra superior e inferior, conhecido como sinal de Romaña.

A forma grave de doença de Chagas aguda, com alta mortalidade, ocorre em menos de 1% dos pacientes; as manifestações podem incluir miocardite aguda (inflamação do músculo cardíaco), pericardite (inflamação do pericárdio, membrana que envolve o coração) ou meningite. A transmissão do parasita por alimentos contaminados parece estar associada a um maior risco de doença aguda grave.

É bom ressaltar, todavia, que na maioria dos casos, a fase aguda é branda e os pacientes não se dão conta de terem sido infectados. A fase aguda termina quando os parasitas desaparecem da circulação sanguínea.

Existem três apresentações distintas da forma crônica da doença de Chagas, começando pelos pacientes que se mantêm infectados pelo Trypanosoma cruzi, porém, permanecem sem sintomas. Muitos desses pacientes nem sequer sabem que estão infectados.

Cerca de 20 a 30% dos pacientes com forma indeterminada da doença de Chagas crônica evoluem para doença sintomática, com acometimento cardíaco ou gastrointestinal, após anos ou décadas de doença silenciosa. Os outros 70% permanecem assintomáticos para o resto da vida.

Na forma cardíaca, aproximadamente 30% dos pacientes que se contaminam apresentam acometimento cardíaco pela doença. A infecção pelo parasita provoca destruição das fibras musculares do coração, levando a um quadro de insuficiência cardíaca grave. O comprometimento cardíaco é o principal responsável por mortes nos pacientes com doença de Chagas. Morte súbita, arritmias e insuficiência cardíaca terminal são as principais causas.

Na forma gastrointestinal o acometimento do trato gastrointestinal ocorre em 10% dos pacientes com doença de Chagas. Uma dilatação exagerada do cólon ou do esôfago são as principais manifestações desta forma de Chagas crônico. Essas dilatações provocam dificuldades para engolir alimentos e regurgitação frequente e prisão de ventre e dor abdominal.

É possível um mesmo paciente apresentar acometimento cardíaco e gastrointestinal concomitantemente.

Durante a fase aguda da doença de Chagas, como há grande quantidade do parasita circulando no sangue, o mesmo pode ser facilmente identificado ao se analisar uma gota de sangue no microscópio. Na fase crônica o diagnóstico é feito através da sorologia (pesquisa de anticorpos no sangue).

Tratamento

Quanto mais cedo for instituído o tratamento contra a doença de Chagas, melhores são os resultados clínicos. Preferencialmente, todo paciente deve ser tratado na fase aguda, tenha ele sintomas ou não. O problema é que como nem todos os pacientes nesta fase estão cientes de estarem contaminados com o Trypanosoma cruzi, a maioria acaba procurando atendimento médico precocemente.

O tratamento precoce tem como objetivos, curar a infecção, prevenir lesões de órgãos, como coração e intestinos, e diminuir a possibilidade de transmissão do protozoário. O paciente que já apresenta a forma crônica, com grave lesão dos órgãos apresenta pouco ou nenhum benefício com o tratamento.

Portanto, pessoas que vivem em áreas onde há casos de doença de Chagas ou que passaram férias recentemente em uma delas, como na Região Norte, mais especificamente no Estado do Pará, devem ter muita atenção a quadros de febre e mal estar, mesmo que estes sejam brandos. Às vezes, é preciso ter um grau de suspeição bem elevado para se detectar a doença de Chagas precocemente.

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