Capela e mastro com a bandeira do Divino Espírito Santo, na localidade do Benfica. Foto - arquivo pessoal Orlando Ribeiro Batista.

No próximo domingo, dia 16, na localidade do Benfica, interior do município de Palmeira, será realizada a 147ª edição da Festa do Divino Espírito Santo. Durante muitos anos a comemoração ficou restrita a celebração de missa, almoço e diversões em geral, mas a tradição cultural e religiosa da festa acabou sendo retomada recentemente por um grupo de fiéis, entusiastas das manifestações musicais e cênicas em homenagem a data.

O professor Orlando Ribeiro Batista reassumiu a responsabilidade pela Capela Divino Espírito Santo de Benfica em 2017. A partir daí, procurou conhecer melhor as tradições ligadas ao culto e à festa. Já em 2018 foi introduzido o hasteamento da bandeira do Divino no mastro e as visitas da Bandeira do Divino às casas da localidade.

As visitas foram aumentando ano e saíram além do Benfica, chegando na cidade de Palmeira. ‘’Já chegamos a levar a Bandeira do Divino em visitas a Sengés, Ponta Grossa, Campo Largo e Curitiba. Este ano fizemos visitas com a bandeira a 22 casas, do Benfica, do Lago e de Palmeira’’, conta Orlando. Desde 2018, o Grupo Cantores do Divino Espírito Santo acompanha as visitas da bandeira com cantorias tradicionais em louvor ao Divino (ouça no áudio abaixo).

Agora em 2023, mais um elemento das tradicionais festas do Divino pelo mundo será incluído na festa no Benfica: o cortejo Imperial do Divino, que é constituído de elementos como rei, rainha, príncipe e princesa, representados por quatro crianças que estarão vestidas com roupas especiais representando a realeza. Tanto em Portugal quanto no Brasil, no período das monarquias, no dia da festa a corte toda saía dos palácios e se dirigia às igrejas para assistir às missas festivas da festa do Divino Espírito Santo.

Já planejando os festejos do Divino no Benfica para 2024, Orlando diz que a intenção para o ano que vem é colocar pelos menos mais quatro crianças no Cortejo Imperial.

Quando muita gente pode se espantar com a longevidade da festa do Divino no Benfica, Orlando afirma que isso é baseado em registros históricos da Paróquia de Palmeira. No entanto, diz que se fosse levada em consideração a tradição oral, os fatos ancestrais passados dos pais para os filhos, a festa de 2023 seria a 243ª realizada na localidade.

Benfica dos açorianos

Orlando reside no Benfica há quase 60 anos, conta que foram duas famílias açorianas (originárias das ilhas dos Açores, uma possessão portuguesa no Oceano Atlântico) que trouxeram a tradição religiosa do culto ao Divino Espírito Santo para a localidade, no final do século 18, quando, vindas de São Vicente, no litoral do estado de São Paulo, ali chegaram à procura de diamantes e ouro no rio Tibagi.

O nome Benfica, segundo Orlando, veio mais tarde, por influência da família Bastos. E no local também já estavam as famílias Mattos e Ferreira. Por força da história oral, memória dos mais velhos moradores do Benfica, estas primeiras famílias já praticavam a devoção ao Divino Espírito Santo.

Segundo Orlando, ‘’a história oral nos conta que foi a família Mattos quem trouxe a imagem do Divino para as terras que hoje conhecemos por Benfica’’. Mais tarde, por volta de 1920, por questão de casamentos entre os membros das famílias, Vergílio Epifânio Ferreira recebeu a imagem do Divino de Silvino de Mattos, para que desse a continuidade à devoção e a tradição ao Divino obedecendo o estilo tradicional, ou seja, festa de partilha, sem cunho comercial, como acontece hoje. Foi nesse período que a construção de uma pequena capelinha em madeira aconteceu, e nela foi colocada a imagem do Divino Espírito Santo.

Mais tarde, já por volta de 1940, a Capela foi ampliada, mas ainda de madeira. Só em 1974 foi iniciada a construção da capela atual, em alvenaria, em outro local, um terreno de frente para a rodovia PR 151, onde agora será celebrada a 147ª festa em louvor ao Divino Espírito Santo.

Bandeira, almoço e diversão

A festa religiosa mais antiga do interior do município de Palmeira começará as 9 horas, com a solenidade do hasteamento da bandeira do Divino Espírito Santo no mastro instalado em frente à Capela. Logo em seguida será realizado o Cortejo Imperial do Divino e, as 10 horas, acontece a celebração da missa. Durante a missa, várias tradições são praticadas, como o beijo dos fiéis na Bandeira do Divino.

Para o almoço, o cardápio terá churrasco de alcatra, filé, carneiro e porco, arroz branco, risoto, macarrão caseiro, maionese e saladas, com sobremesas. A partir das 14 horas será realizado bingo e a tarde dançante, com música ao vivo do grupo Gaitaço, e venda de pastéis e bolos, entre eles o famoso Bolo do Divino (foto abaixo).

A organização da festa comunica que não serão aceitos vendedores ambulantes e de som automotivo. A localidade do Benfica está localizada no quilometro 376 da PR 151, entre Palmeira e Ponta Grossa.

Divino Espírito Santo

O culto ao Divino Espírito Santo tem sua tem origens na antiguidade, quanto o povo de Israel celebrava o Pentecostes, sete semanas após a Páscoa judaica. Era uma das quatro festas importantes do povo de Israel: Páscoa, Omar, Pentecostes e Colheitas.

Na Baixa Idade Média o culto ao Espírito Santo ganhou tom de festividade através do abade Joachim de Fiori por volta de 1200. No século 13, em Portugal, a rainha D. Isabel, esposa do rei D. Diniz, mandou construir em Alenquer uma Igreja ao Espírito Santo.

Por volta do ano de 1320, a rainha teria prometido ao Espírito Santo, peregrinar pelo mundo com uma cópia da Coroa do Divino Espírito Santo, arrecadando donativos em benefício do povo pobre, caso seu esposo fizesse as pazes com o filho D. Afonso, herdeiro legítimo do trono, que estava em pé de guerra com o pai, que, por isto, desejava passar a coroa ao filho bastardo, Afonso de Sanches.  Como a história mostra, a graça pedida ao Espírito Santo foi alcançada pela rainha. Pai e filho reconciliaram-se. A partir daí, D. Isabel passou a organizar os festejos do Divino Espírito Santo.

A devoção ao Divino Espírito Santo cresceu cada vez mais e hoje a Festa do Divino é muito grande em Portugal e nas ilhas portuguesas dos Açores (nove ilhas) e da Madeira.

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