A CRUZEIRO pediu informações sobre se as cores foram definidas aleatoriamente ou através de uma janela de restauro feito por profissional do ramo para encontrar vestígios dos pigmentos originais, mas também não teve resposta. Foto - Divulgação/Redes Sociais

Desde o final do mês de junho o jornalismo da CRUZEIRO faz sucessivos pedidos de informação sobre a Praça Marechal Floriano Peixoto e também sobre a gestão patrimonial dos bens culturais do município.

Secretário de Meio Ambiente, Cultura, Turismo e Relações Públicas, Igor Michalski Moreira

A assessoria de comunicação da Prefeitura de Palmeira ignora e não envia respostas aos questionamentos da emissora. Sem informações oficias a CRUZEIRO veiculou reportagem – LEIA AQUI – trazendo a preocupação de munícipes sobre o que se passa atrás dos tapumes da reforma do coração político, social, cultural e religioso de Palmeira. Só após a publicação é que ocorreu manifestação da Prefeitura, mas não como retorno aos questionamentos da CRUZEIRO.

Profissionais de arquitetura e a comunidade em geral fizeram contato a redação, através das redes sociais, questionando o cuidado com os bens imóveis do local: se passam por intervenção ou restauro e a preocupação com a divulgação por parte da Prefeitura de que a fonte seria recoberta com “novos revestimentos”, conforme divulgou a assessoria.

O secretário de Meio Ambiente, Cultura, Turismo e Relações Públicas, Igor Michalski Moreira, veiculou fotos em um grupo de aplicativo de mensagens do Conselho Municipal de Cultura, que mostravam o coreto, o monumento às águas e o chafariz, garantindo que “não tem nenhuma alteração nos monumentos históricos, apenas a reativação da fonte, e pintura e restauração dos demais”.

Segundo membros do conselho que participam do grupo e contataram a emissora, o secretário disse ainda que que “a obra não está parada, os funcionários estão no local trabalhando” e que para quaisquer dúvidas estaria à disposição. Aproveitando a disposição do secretário, o jornalismo da CRUZEIRO fez novo contato, e mais uma vez não recebeu resposta alguma.

Uma dessas dúvidas é sobre o tipo do revestimento que receberá a fonte, pois no projeto que foi divulgado pela Prefeitura o chafariz receberia “novos revestimentos”, contudo o Executivo, como faz habitualmente, não respondeu. Também questionamos a cor escolhida para a pintura dos monumentos históricos culturais presentes na Praça: o coreto e o chafariz. Em foto divulgada pelo secretário de cultura, ambos estão pintados com dois tons de bege.

Segundo projeto a fonte seria recoberta com “novos revestimentos”, o que pode alterar significativamente sua arquitetura e elementos originais ainda preservados dos anos 1960. Prefeitura de Palmeira não informou que tipo de revestimento seria esse. Foto/Divulgação Redes Sociais

A CRUZEIRO pediu informações sobre se as cores foram definidas aleatoriamente ou através de uma janela de restauro feito por profissional do ramo para encontrar vestígios dos pigmentos originais, mas também não teve resposta.

Reuniões do Conselho

Quanto às reuniões do Conselho Municipal do Patrimônio, responsável pelo controle social dos bens materiais e imateriais de Palmeira, o secretário também teria respondido, através de mensagens, que a falta de encontros periódicos acontece por “não existir demanda” para discussão.

Contudo, vários bens culturais de Palmeira vêm passando por intervenções drásticas ou de negligência e que deveriam ter sido discutidas no conselho. Um exemplo é o Clube Palmeirense, construção do início do século 20, que recentemente teve instalado exaustores que projetam-se sobre o seu telhado, alterando a visão da fachada e a volumetria nas telhas de barro.

O casarão com estilo arquitetônico barroco preserva boa parte suas características, como janelas e volumetria do telhado, contudo, o exaustor aparente na fachada descaracteriza o prédio na sua totalidade, por se tratar de um elemento que não tem conexão histórica com a arquitetura do prédio. Foto – Clube Palmeirense

Outro exemplo que também não foi levado ao Conselho é a casa número 02 de Palmeira, que fica no “Beco da Matriz” construção secular de uma das primeiras ruas do município e que está passando por intervenções sem nenhum tipo de acompanhamento ou oitiva dos conselheiros do patrimônio.

Sem reuniões do conselho de patrimônio e a falta de interlocução entre secretária de cultura e secretaria de desenvolvimento urbano, o patrimônio vai ruindo e a história se perdendo com as demolições e intervenções sem gestão. Foto – Casa 02 de Palmeira, localizada no Beco da Matriz

Mesmo o secretário afirmando que não existe demanda para as reuniões, ainda é possível pontuar os próprios monumento da Praça da Matriz, que não tiveram suas cores discutidas com os conselheiros, o museu cemiterial, único do Brasil, que se encontra em estado de abandono e a negligência com bens que estão ruindo: como a fonte da Praça do Chafariz, a Praça Germano Ristow e a Casa dos Arcos, bem que é tombado pelo Patrimônio Cultural do Estado do Paraná.

Um processo judicial movido pela Prefeitura de Palmeira foi aberto em 2020, trazendo a responsabilização para os proprietários e acionando o Governo do Estado para sua recuperação. A atual administração não informou se deu andamento ou como se encontra a situação na justiça. – Foto – Casa dos Arcos, localizada na rua XV de Novembro, bem tombado pelo Patrimônio Cultural do Estado do Paraná

A cargo do conselho também fica a discussão para a criação de mecanismos de acompanhamento e revisão do patrimônio imaterial, e também ações que viabilizem a difusão dos saberes e fazeres nas comunidades que estão inseridas ou para todos que desejarem.

A falta de manutenção na Praça tem ocasionado danos a fonte da Praça Germano Ristow, como trincas e rachaduras, além da falta de pintura. O local que serviu de fonte de água para abastecimento da população local.

A CRUZEIRO também questionou a Prefeitura sobre publicidade das datas de reunião dos conselhos no Diário Oficial, para que a comunidade possa acompanhar o trabalho dos grupos, mas nosso pedido de informação foi ignorado.

Oportunidade Arqueológica

Uma grande oportunidade arqueológica foi perdida durante a reforma da Praça Marechal Floriano Peixoto, a Praça da Matriz. O local sempre foi o centro cultural, social e comercial de Palmeira, isso há mais de 200 anos.

Escavações feitas por profissionais habilitados poderiam revelar informações importantes sobre o passado da Cidade Clima do Brasil e também sobre os costumes e cotidiano dos palmeirenses que viveram por aqui, deixando para trás parte deste passado enterrado.

No mês de junho, escavações para construção civil na cidade de Florianópolis, em Santa Catarina, revelaram uma calçada que seria o piso original a região no século 19.
Em Curitiba, obras para restaurar esculturas do artista João Turim, foi encontrada embaixo da escultura de Tiradentes, de quase 100 anos, uma garrafa contendo manuscritos do próprio artista.

Em 2018, durante uma reforma na Praça Tiradentes, também na Capital, uma calçada formada por grandes blocos de pedra foi descoberta, a quase um metro de profundidade e pode ser do século 19 ou 18.

 

Deixe um comentário